e aprecie.

domingo, 19 de setembro de 2010

cont. 3

perdi o fio da meada, não consigo continuar agora.
talvez eu consiga amanhã.

cont .2

- Na faculdade de psicologia me ensinaram tantas coisas. Sendo ao contrário, nesse instante eu me encontraria talvez como uma criança. Talvez até como aquela criança que se odeia. Mas, graças a Deus, não. Eu não sou assim, não mais. Não tenho mais essa insegurança que divide a maturidade da inexperiência, a malícia da inocência, a sagacidade de merecer da pobreza de aceitar. Eu ainda tenho a minha vida toda pela frente, e não vou me deixar levar por tal babaquice, que, sinceramente, não passou de um infortúnio, uma pedra no meu caminho. Francamente, eu desejo que tal encosto não apareça nunca mais para me atrapalhar, pois, meu Senhor, quanta coisa para agüentar agora. Tem até repórteres! E eu que não tenho culpa alguma! Deviam correr atrás daquela garota imbecil, isso sim. Causou todo o alvoroço, e agora a culpa caiu inteiramente para mim, sem razão alguma. E esse telefone que não para de tocar um minuto, Santa Maria. Pedi até pro Félix – o homem que faz as coisas aqui em casa, lava, passa, trás, joga e etc. – para não atender mais os telefonemas, e simplesmente deixar tocar, assim, sem compromisso. Vão pensar que eu saí, ou que eu estou morando em outro lugar. Assim espero.
- Agora o que me resta fazer é esperar... Como eu estava antes, vou tentar voltar a meditar. É que eu me exaltei um pouco, sem motivo. Aliás, isso acontece com o ser humano, é completamente normal. Vou simplesmente voltar a me sentar no sofá, colocar algo no rádio e fechar os olhos, para pensar em nada. Se causos assim acontecessem freqüentemente, assim, toda semana, ou até mesmo diariamente, aposto que a humanidade seria melhor. Pois é como eu aprendi, é com erros que se aprende realmente. É assim que o ser humano é: só dá falta de uma coisa quando a perde. E eu também sou humana. Eu tenho esse direito.
- Mas que falta de sorte é essa que me acompanha, puxa vida. Será que vai ser assim para sempre? Por favor, que não seja. Terei que ser muito forte para agüentar tal sina. Temo que eu não consiga. Como se já não bastasse aquele infortúnio com a joalheria, no qual me acusaram de roubo quando eu não havia roubado absolutamente nada. Não consigo me concentrar, meu Deus. Aliás, nunca consigo concentrar-me. E é por essa razão que todas essas coisas sem motivo acontecem, pela minha falta de sagacidade. Mas eu estou trabalhando nisso, todos os dias, e eu prometo que isso vai acabar. É tão certo. Estou realmente cansada, já não falo mais coisa com coisa. Me sinto só o bagaço. Quero dormir.

Depoimento

- Me bate na cabeça, e me incomoda, o fato de que aquilo aconteceu de forma tão natural, e, ao mesmo tempo, tão sobrenatural. Preocupo-me até agora com o destino daquela garota, cuja face não me permito lembrar-me, pois meus cabelos caem. Minto: eu cravo-os a minha mão, e arranco-os.
- Se alguém jamais se importou tanto com um desconhecido que chora e pede esmola, se arrasta por pouca comida, e nem sequer se veste decentemente, esse alguém fui eu. Se me perguntarem se me arrependo, eu respondo simplesmente que não foi culpa minha. Mas não foi mesmo, contrario o que a maioria imagina. O fato é que ninguém realmente estava lá para presentear a cena de horror - estilo Tarantino - que aconteceu naquela tarde. Tanto ninguém estava lá, que, em decorrência a esse infeliz fato, a pobre garotinha agora deve estar se culpando, coitada, aos prantos em algum canto do mundo, se levando a depressão por conta própria. É algo comum das crianças, essa autoflagelação. Isso porque elas não pensam antes de agir, as pestes, e só percebem que seus atos tomaram proporções absurdas depois que a catástrofe já aconteceu. Aí então se recolhem, sem se desculpar a ninguém, fingem que não estiveram no ato, e tentam esquecer. Mas não acontece. Esse negócio de esquecer não acontece tão cedo. Para isso, não importa a idade, todos nós sabemos: Está lá escondidinho, debaixo de um tapete em nossas lembranças, mas está lá vivinho. E quando menos se espera aquilo domina toda a face e o corpo junto, e fica aparente pra todos. É essa a hora da vingança, doce vingança.