Denigra-se!

e aprecie.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

outro rascunho

palavras ao vento, que faz sua função sem esforço, me indago. Que se fossem designadas a alguma pessoa, que esta especial possa saber que foi o caso. E tem mais, que ela tenha a capacidade de se eleger à isso, de poder se identificar e aplicar-se a dose que vem, sem mais nem menos, pois não faço questão de limitar-me a um número de pessoas. Pode ser qualquer uma, inclusive nenhuma.

rascunho perdido

Fingiu-se de louca por alguns segundos, e percebeu que só assim sentia a paz profunda de espírito que lhe faltava. Consumiu, daqueles segundos em que se transformara em uma alucinada insana por vontade própria, o suprimento que sobrepunha a vergonha que havia a tomado para si. Degolava-se com pensamentos escárnios enquanto esfaqueava-se com sofrimento aguçado em cada lado de seu corpo, soltando acanhados gritos de puro horror consciente, morte viva. A hora em que planejara dizimar por fim o seu subconsciente, que cada vez mais clamava por paixão e berrava alertando, chegara.

domingo, 19 de setembro de 2010

cont. 3

perdi o fio da meada, não consigo continuar agora.
talvez eu consiga amanhã.

cont .2

- Na faculdade de psicologia me ensinaram tantas coisas. Sendo ao contrário, nesse instante eu me encontraria talvez como uma criança. Talvez até como aquela criança que se odeia. Mas, graças a Deus, não. Eu não sou assim, não mais. Não tenho mais essa insegurança que divide a maturidade da inexperiência, a malícia da inocência, a sagacidade de merecer da pobreza de aceitar. Eu ainda tenho a minha vida toda pela frente, e não vou me deixar levar por tal babaquice, que, sinceramente, não passou de um infortúnio, uma pedra no meu caminho. Francamente, eu desejo que tal encosto não apareça nunca mais para me atrapalhar, pois, meu Senhor, quanta coisa para agüentar agora. Tem até repórteres! E eu que não tenho culpa alguma! Deviam correr atrás daquela garota imbecil, isso sim. Causou todo o alvoroço, e agora a culpa caiu inteiramente para mim, sem razão alguma. E esse telefone que não para de tocar um minuto, Santa Maria. Pedi até pro Félix – o homem que faz as coisas aqui em casa, lava, passa, trás, joga e etc. – para não atender mais os telefonemas, e simplesmente deixar tocar, assim, sem compromisso. Vão pensar que eu saí, ou que eu estou morando em outro lugar. Assim espero.
- Agora o que me resta fazer é esperar... Como eu estava antes, vou tentar voltar a meditar. É que eu me exaltei um pouco, sem motivo. Aliás, isso acontece com o ser humano, é completamente normal. Vou simplesmente voltar a me sentar no sofá, colocar algo no rádio e fechar os olhos, para pensar em nada. Se causos assim acontecessem freqüentemente, assim, toda semana, ou até mesmo diariamente, aposto que a humanidade seria melhor. Pois é como eu aprendi, é com erros que se aprende realmente. É assim que o ser humano é: só dá falta de uma coisa quando a perde. E eu também sou humana. Eu tenho esse direito.
- Mas que falta de sorte é essa que me acompanha, puxa vida. Será que vai ser assim para sempre? Por favor, que não seja. Terei que ser muito forte para agüentar tal sina. Temo que eu não consiga. Como se já não bastasse aquele infortúnio com a joalheria, no qual me acusaram de roubo quando eu não havia roubado absolutamente nada. Não consigo me concentrar, meu Deus. Aliás, nunca consigo concentrar-me. E é por essa razão que todas essas coisas sem motivo acontecem, pela minha falta de sagacidade. Mas eu estou trabalhando nisso, todos os dias, e eu prometo que isso vai acabar. É tão certo. Estou realmente cansada, já não falo mais coisa com coisa. Me sinto só o bagaço. Quero dormir.

Depoimento

- Me bate na cabeça, e me incomoda, o fato de que aquilo aconteceu de forma tão natural, e, ao mesmo tempo, tão sobrenatural. Preocupo-me até agora com o destino daquela garota, cuja face não me permito lembrar-me, pois meus cabelos caem. Minto: eu cravo-os a minha mão, e arranco-os.
- Se alguém jamais se importou tanto com um desconhecido que chora e pede esmola, se arrasta por pouca comida, e nem sequer se veste decentemente, esse alguém fui eu. Se me perguntarem se me arrependo, eu respondo simplesmente que não foi culpa minha. Mas não foi mesmo, contrario o que a maioria imagina. O fato é que ninguém realmente estava lá para presentear a cena de horror - estilo Tarantino - que aconteceu naquela tarde. Tanto ninguém estava lá, que, em decorrência a esse infeliz fato, a pobre garotinha agora deve estar se culpando, coitada, aos prantos em algum canto do mundo, se levando a depressão por conta própria. É algo comum das crianças, essa autoflagelação. Isso porque elas não pensam antes de agir, as pestes, e só percebem que seus atos tomaram proporções absurdas depois que a catástrofe já aconteceu. Aí então se recolhem, sem se desculpar a ninguém, fingem que não estiveram no ato, e tentam esquecer. Mas não acontece. Esse negócio de esquecer não acontece tão cedo. Para isso, não importa a idade, todos nós sabemos: Está lá escondidinho, debaixo de um tapete em nossas lembranças, mas está lá vivinho. E quando menos se espera aquilo domina toda a face e o corpo junto, e fica aparente pra todos. É essa a hora da vingança, doce vingança.

sábado, 7 de agosto de 2010

Duas almas perdidas nadando num aquário

Ela só via o branco gélido que pairava envolvendo sua cabeça a uma distância aparentemente infinita do final daquele universo abstrato. Todos seus sentidos estavam mortos, e não havia mais reação de sua parte para com sua mente, que repousava tranqüila, quase como se tivesse sido sedada com um veneno forte, que causava alucinações confortantes, mas, na realidade, originava um mal terrível. Ela podia enxergar pequenas coisas que se moviam, andavam, pulavam, mas nunca podia ver o que eram, pois estavam muito longe. Na verdade, às vezes tudo se tornava tão nítido a ela, que era claro tudo o que absorvia, tinha certeza absoluta das coisas que apareciam em sua frente, mas logo depois descobria que era apenas um engano, uma armadilha de sua mente, e não podia ter certeza de mais nada. A sensação era de conforto, mas era bagunçado. Se sentia enjoada de vez em quando, e quanto mais o tempo passava, mais vinha à tona diferentes sentimentos e vontades.

Era tarde demais para conseguir sequer se livrar e desistir, mas não a impediu de tentar. Foi para a cama, deitou-se sem tirar a roupa que vestia – uma calça jeans, uma camiseta larga, uma jaqueta com capuz e um tênis branco comum. Cobriu-se com o cobertor que havia derrubado no chão na noite anterior, e que permanecera lá até o momento. Repousou sua cabeça nas almofadas e ajeitou-a numa posição confortável. Tão logo fechou os olhos, dormiu.

sábado, 31 de julho de 2010

A Janela

A luz se apagou de repente, e tudo ficou mais claro. Só podiam ser umas 2 horas da manhã, mas era indefinível, já que através do vidro da janela só se podia ver algumas estrelas. Nem sequer a lua dava as caras naquela noite, o que era uma pena: Eu adoraria vê-la nos assistindo durante a noite inteira, eu não desgrudaria os olhos dela. Engraçado como eu sentia uma vontade imensa de ser observada. Me estremeci de prazer só de pensar.

Nem lembro mais como fui parar ali, mas, Deus, como eu sentia falta daquilo. Era estonteante. Só pensava em sentir a onda de prazer que me dominava a cada mordida que eu levava no pescoço, a cada vez que eu mordia algo, no escuro, que pouco me importava o que fosse, só queria morder. Com audácia, queria ser audaciosa. Estava livre para me contorcer do jeito que quisesse, do jeito mais gostoso que fosse, o que meu corpo precisasse. Estava envolvida num ritmo perfeito, e cada vez mais com água na boca.

Ele, pelo que eu lembro, era um homem loiro, alto, e lindo. Tinha olhos claros, só não lembro mais se eram verdes ou azuis. Me tratava como um animal, sendo ele próprio o animal mais forte, que comanda. E eu, graças a deus, era a comandada, a escrava, a prostituta vagabunda e gostosa, que geme sem parar.

Abria minhas pernas, apenas seguindo meu instinto e esfregava o que pudesse no corpo dele. Agora ele estava ajoelhado, me fazendo, do melhor jeito possível, ir à loucura, à insanidade. Eu arranhava a parede com toda a minha força, e me agarrava a tudo o que fosse possível. Me molhava inteira, e sempre gemendo. Quase gritava às vezes. Com os dentes cerrados, urrava e mordia a minha própria língua, qualquer dor era apenas mais uma opção.

Não tinha noção de mais nada, só a de que era preciso continuar. Continuar até ser explorada até a última gota, continuar até ficar com o corpo mole e desabar aonde quer que fosse, continuar até cansar de virar os olhos. Essa hora iria chegar, mas agora não importava quando.

No meio do ato, num ímpeto indiferente, levantei a cabeça. Foi quando, sem querer, eu olhei pela segunda vez na noite para a janela e vi o que me fez sorrir, o que fez valer realmente aquela prazerosa noite. Me observando esse tempo todo, sem qualquer tipo de pudor, se encontrava a lua majestosa, rainha da noite, se impondo no céu negro, envolvida pelas nuvens. Eu sabia que ela não perderia aquilo, eu tinha essa certeza. Ela parecia estar adorando. E agora eu também.

A noite apenas havia começado, e eu me empenharia ainda mais. Agora ela me assistiria, me veria atuar até o fim, e se surpreenderia em ver como uma simples mulher como eu pode, na noite escura, brilhar tanto quanto ela.